Eu sei que depois desta escrevedura, deste desabafo público, irei receber umas centenas de cartas de amigas que me vão dizer:
Karlyttos, nós nunca te esquecemos, nunca te esqueceremos. Tu, aos 65 anos estás melhor do que nunca. És muito mais giro do que o "Xixó", do que o Luisão e do que toda a banda dos Diamantes junta…
E, então, o meu ego voltará a insuflar-se até quase fazer PUM!
Queridos Diamantes vocês são lindos. Vocês fizeram-me vibrar como se fosse um puto. Embora muitas vezes pareça distante tenho que lhes confessar que vocês são uma parte muito boa da minha vida. Adoro-vos!
Karlyttos
Carlos Nascimento Testemunho dum irmão do "apresentadeiro" amigo de longa data
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José do Nascimento |
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Quando recebi o convite para estar presente no 45º aniversário dos Diamantes Negros, de entre os vários pensamentos e desejos que me assaltaram, sobressaiu um:
"Mas estes gajos ainda festejam aniversários, É preciso ter lata!"
É evidente que pensei em nem sequer responder ao convite e, consequentemente, nem pôr lá os pés, apesar do evento incluir almoço que nem era caro e o restaurante, um dos que frequento com assiduidade, prova da sua qualidade.
Imediatamente após o almoço, haveria baile na Sociedade União Sintrense, abrilhantado pelos... Sim, esses mesmo, os Diamantes Negros que teimam em massacrar-nos os ouvidos com aqueles ruídos infernais que alguns teimam em chamar de música. Logicamente que estava decidido:
"Não, definitivamente não estou para aí virado!"
Só que quando se está casado com a minha mulher, nunca poderemos usar a palavra definitivamente sem primeiro a consultar. Recuso-me a comentar os métodos que ela usou, mas apresentei-me, com o ar mais alegre e prazenteiro de que me consegui mascarar e apresentei-me tanto no almoço como no baile e, pasmem, até dancei!
Acabei por não me arrepender de ter marcado presença, a festa chegou a ter pontos altos, a começar pelo "remake" da apresentação dos Diamantes Negros, tal como há 45 anos, a cargo do meu irmão mais velho, o Carlos, que se apresentou bem mais à vontade que no dia 25 de Janeiro de 1964 e a manter a qualidade de sempre.
Mais tarde o Vítor "Balila", o eterno "manager" do grupo relembrou as preferências dos elementos do grupo, desde gastronómicas às culturais, apesar de quase tudo não passar de pura ficção – qual deles fazia da trufa e do caviar elementos normais da sua dieta alimentar e qual deles teria lido Sartre ou Camus. Liam Tim Tim e tio Patinhas e... e... – as fãs gostavam de ídolos letrados, fingiam que acreditavam e sonhavam... sonhavam... Belos tempos!
Já quase no fim, fui desafiado a falar do Teatro que teve berço na Sociedade União Sintrense e viveu entre 1972 e 1982, com a participação de muitos Diamantes, da actual formação ainda lá está o Caínhas, o Luís Manuel que se dividiam entre o palco e o fosso de orquestra, e o Xixó, o nosso director musical, função que nunca dividiu com qualquer outra. Na pista de dança via-se o Tó Zé e o Marinho, alguns outros Diamantes do Teatro não estiveram presentes fisicamente mas estiveram e estarão sempre nas minhas memórias mais agradáveis. Sou obrigado a reconhecer, embora um pouco contra a minha vontade, que a participação desses Diamantes nas artes de Talma, terão sido determinantes para os êxitos que alcançámos durante uma década e foi por gratidão a esse contributo que, em nome de todo o grupo de teatro da SUS 72/82, exortei todos os presentes a juntarem-se a mim numa mais que justa homenagem aos homens da música. A medalha que levava para coroar a merecida ovação aos Diamantes, após alguns momentos de ponderação, resolvi, muito justamente, atribuí-la a mim mesmo...
Por último, sou obrigado a reconhecer – ai o que me custa dizer isto – Os Diamantes Negros tocaram como sempre, bem! Talvez até muito bem!
E não digo mais nada, já nem me estou a reconhecer!
José do Nascimento
PS – É sempre um prazer ouvir a excelente voz do Jaime e confraternizar com o Xico Martins, para mim será sempre "the voice", e o Charlie, que provou ainda saber matraquear os tambores!
Um "Chinchila" presente no nosso aniversário!
Texto solidário de um grande músico amigo dos Diamantes.
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Luís Pedro Fonseca
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Meus caros Diamantes,
Como puderam observar, estiveram presentes na vossa festa os Chinchilas, através de um seu representante credenciado, se bem que pertencente à segunda formação do grupo.
Eu pertenci à formação que foi representar Portugal no Festival Barbarella Conjuntos 70, em Palma de Maiorca. Nesse evento, participaram nomes como "Los Bravos", "Omega",
"Focus", etc... Para os entendidos, não foi nenhuma festa passada num vão de escada. Um dos membros do Júri era o famoso maestro Frank Purcell, estava lá alguém do Melody Maker... enfim, era um evento com alguma credibilidade a nível europeu, pelo menos. A jogar em casa, ganharam os "Los Bravos", claro!
Nessa formação dos Chinchilas estava, para além de mim, o João Ribeiro ( baixista dos Beatniks do Pedro Massano ) e o Guilherme Inês, que tinha pertencido aos Zoo, do Artur Azinhais. Também iam nos coros a Sílvia, irmã do Filipe Mendes e a Judy, que pertencera aos Musica Novarum, do Nuno Rodrigues, futuro compositor da Banda do Casaco.
Eh pá, de repente estou-me a sentir na pele do professor António José Saraiva!!! O melhor é mudar de registo!!! O "dono" da banda era, e sempre foi, o Filipe Mendes, que agora chamam ridiculamente, quanto a mim, de Phill Mendrix! Enfim, passemos adiante. Ponto, parágrafo!
O que eu quero dizer é que não vi lá ninguém que tivesse pertencido a outra banda conhecida. Reparem bem, eu não disse da outra banda, da margem Sul. Disse de outra banda.
E esse facto definiu, mais uma vez, a parte sombria da coisa. Eu sei que o português também tem as suas partes luminosas. Também seria muito pessimista da minha parte afirmar que este povo fosse tão mauzinho. Mas não é do povo que falo. Falo dos músicos, dos pseudo amigos que sempre saltearam por aí, dando-nos as famosas pancadinhas nas costas, em certas alturas importantes das nossas vidas. É dessa gente que falo. Olhei à minha volta e fiquei a gostar mais de mim.
Eu nunca tive um relacionamento próximo com os Diamantes, nem nada que se pareça, mas quis ir à vossa festa. E tornei a vossa festa minha também! Até toquei e tudo!!!
Porque eu gosto de partilhar a alegria e os bons momentos dos outros. Neste caso, dos Diamantes Negros, que comemoravam 45 anos de existência!!! Se os Stones sabem disto, vão sentir-se mais frágeis e inseguros!!! Que esta notícia não saia daqui!!!
Mas sem me querer desviar do meu propósito, que é o de falar da vossa festa descontraída e divertida, senti esse frio na espinha. Não que vocês tenham sido os Beatles cá da terrinha. Mas senti a falta de unidade, de solidariedade, de carinho e fraternidade que esta raça que somos também sabe manifestar, para além da fama de sermos uns grandes anfitriões. Eu sei que havia muita rivalidade entre as bandas. Mas essa rivalidade nunca foi para mim sinónimo de inimizade.
Lembro-me de que um dia os Chinchilas foram tocar num Hotel do Estoril, depois dos 1111. Na última música deles, eu estava atrás do Zé Cid, que tocava o seu Hammond, que era considerado um instrumento de luxo na altura, em Portugal. Eu tinha um Vox Continental, órgão do qual, por sinal, gostava muito. Sempre me interessaram muito mais as ideias dos músicos do que os seus instrumentos. Mas estava eu a contar que os 1111 estavam a rematar o seu espectáculo com um tema forte, como todos os grupos faziam no final dos seus espectáculos, para "esmagar" o público ( risos ). No fim da actuação deles, o Zé Cid, agora meu amigo, desfez à pressa todos os registos do Hammond, que ele tão bem conhecia. Eu nunca tinha posto as manápulas num bicho daqueles! Eu, que estava por trás, dei-lhe um toque no ombro. Ele voltou-se e muito atrapalhado, explicou-me: "Sabes...é que eu tenho o "meu" som...". Claro que fiquei a apanhar bonés nos primeiros temas que tocámos, porque não conseguia pôr "aquele" som de Hammond que tanto amava, e que ouvia nos discos do Santana, dos Deep Purple, Iron Butterfly, Hammond Dull, Emerson, Lake and Palmer, Pink Floyd, Vanilla Fudge, Gentle Giant, eu sei lá...
Este é um episódio de que eu nunca mais me esqueci. Hoje tenho as melhores relações com o Zé, mas na altura achei que o gajo tinha tido uma atitude f.....d...p....!!!
Meus caros, eu sou um orador por excelência (não estou a dizer que sou bom a falar, mas s)im, que falo muito). O que me vale é que tenho um sistema de auto-travagem excelente! Vou ficar por aqui. Queria apenas dizer-vos que gostei muito da vossa actuação (agora diz-se "performance"), do trabalho do conjunto (agora diz-se "banda") e do som conseguido para imitar os nossos ídolos da altura (O som ainda se diz som!). Embora não seja nenhum Mike Tyson da música, ficaria feliz se a minha presença física no vosso aniversário tivesse tido o poder de atenuar, de alguma forma, a falta de todos os "famosos" ausentes que vocês gostariam de ter visto por lá.
Sabem uma coisa?....o pessoal anda muito ocupado.. tem mais que fazer..."perder" tempo não é para eles...
Um grande abraço de parabéns a todos!
Luís Pedro Fonseca
Os textos do José do Nascimento, ou melhor, das figuras fantásticas que criou para o sítio sintrense dos Diamantes Negros:
Afinal o Zé do Moinho também foi ao baile!...
Senhores Diamantes Negros
Eu também fui ao baile! Estava eu e mais a minha senhora a aquecermos os ossos à beira do lume quando apareceu a menina da Junta, toda aperaltada, a desencantar a gente para irmos com ela ao baile dos Diamantes Negros. Eu até que me lembrava deles, chegaram a tocar cá na aldeia por altura das festas da Senhora dos Aflitos que continua a não nos acudir. Eu até que gostava de os tornar a ouvir mesmo sabendo que eles só tocam coisas em estrangeiro, mas a minha senhora começou logo a dizer que isto e que mais aquilo, que torna... Os afrontamentos da mudança da idade!
" – Então vai o senhor Zé do Moinho comigo."
E não é que fui mesmo! Quando chegámos, a função estava mesmo a começar e conheci logo o senhor dos tambores, com um bocadinho de menos cabelo, mas ainda bate com os pauzinhos com o mesmo preceito de antigamente. O senhor do saxofone não estava lá e tive pena, dava uma outra alegria as músicas, mas estavam lá os coça-barrigas a tocar as suas violas, um deles não conhecia, ou então era das barbas, mas coitado tinha menos cordas que os outros dois que também eram os mesmíssimos de antigamente, um a valer por dois e o outro por três... Ah músicos de uma cana, a gente mesmo sem querer, e apesar de não serem as modas as nossa terra, o pézinho começou logo a mexer e a empurrar-nos para a bailação.
A menina da Junta é que baila mesmo a preceito aquelas coisas de abanar o "sim senhor"... e que "sim senhor" ela tem! Também me pus a abanar e por mor disso, às tantas já me sentia todo revirado do avesso. O pior... o pior... o pior mesmo foi quando os senhores da música tocaram uma daquelas músicas para dançar devagarinho e agarradinho! E não é que a menina da Junta quis bailar comigo, eu sempre a querer manter o maior dos respeitos, mas às tantas distraí-me com a música e aquilo parecia que os dois éramos só um... Então quando eu comecei a sentir as maminhas da menina da Junta a quererem entrar pelo meu peito a dentro, comecei a sentir uns afrontamentos que nem duas bejecas geladinhas e seguidinhas apagaram o fogo!
Quando cheguei a casa, estava mesmo danadinho para a brincadeira e no dia seguinte a minha senhora que até disse:
" – Diz lá aos senhores dos Diamantes Negros para fazerem mais bailes para tu ires e mais a menina da Junta."
Então a mando dela, é assim:
" – Senhores da música dos Diamantes Negros, façam o favor de fazer mais bailes para eu lá ir e mais a menina da Junta, no maior dos respeitos...
Cumprimentos meus e mais os da minha senhora e até depois!"
Zé do Moinho
Reboliço na aldeia!
Carlos D' Azenha põe tudo em pratos limpos e deixa Zé do Moinho em maus lençóis!
Carta Aberta a Zé do Moinho
Zé do Moinho,
Tu sabes, toda a gente sabe, se não sabe devia saber, que eu sou da mesma freguesia que tu, meu aldrabilhas do caraças.
Conheço-te de ginjeira e não posso pactuar com o chorrilho de embustices que escarrapachaste no sítio dos Diamantes, que é um site, como agora se diz, de gente decente, e não para pessoas como tu, que só gostam de armar ao pingarelho e passar por aquilo que não são.
Tu sabes, toda a gente da nossa freguesia sabe, se não sabe devia saber, que não há nenhuma menina da Junta. Há um menino, o Manelinho que é um abichanado do caraças, que tem a mania de se travestir em dias de festa, especialmente em dias de baile. Portanto, há que pôr as coisas em pratos limpos, e dizer que tu andaste no roça-roça, não com menina da Junta, que só existe na tua paupérrima imaginação, mas com o menino Manelinho, o maior larilas da nossa aldeia e arredores.
E depois ainda vens dizer que te entusiasmaste e… que tu e a tua Maria não sei quê. Conversa, conversa da treta. Aliás, todos sabem, se não sabem ficam a saber, que a tua, tua é uma força de expressão, Maria, declara em voz alta que tu és um incompetente sexual. Aliás toda a gente vê, se não vê é porque é ceguinho, que os teus, teus é uma força de expressão, filhos, não têm nada a ver contigo: um é parecido com o leiteiro, outro é parecido com o carvoeiro, que é aquele mais escurinho, outro é parecido com o padeiro, que é o mais clarinho, deve ser da farinha, e o outro, dizem, é parecido comigo.
Zé do Moinho só, não és gay porque não tens estatuto para isso, mas é um ganda rabeta… És panel… e mais és um ganda cornudo.
Zé do Moinho, nem sei se vais perceber este arrazoado, sim porque tu nunca passaste da segunda classe, meu burro cornudo, enquanto eu fiz, com distinção, a admissão aos liceus.
Zé Moinho, depois disto não armes mais ao pingarelho, a escrevinhar coisas que só existem na tua imaginação.
A Menina da Junta?
Olha, assume a tua condição de larilas e junta-te com o Manelinho da Junta.
Deixa tar que eu tomo conta da tua Maria.
Carlos D' Azenha
Zé do Moinho contra-ataca!
Até o presidente da junta já nos prometeu o total esclarecimento.
A Verdadeira Verdade das Coisas
Meus caros compadres e todas as outras pessoas de bem.
Quase todas as aldeias têm o seu bêbado e o seu "coisinha assim-assim", mas por acaso, aqui só temos o primeiro que é uma esponja que vossemecês nem imaginam.
O Carlos d'Azenha, que é hoje conhecido pelo Carlinhos Seca Adegas, já foi um homem honesto e trabalhador até que se lhe aconteceu aquela desgraça. Mesmo com toda a farinha que lá tinha na azenha, a mulher parece que há muito tempo que não via o padeiro e passou a andar à procura de outros espanadores para limpar as teias de aranha, dizem que mais de meia aldeia a andou a desempoeirá-la.
Quando o Azenha soube que já tinha uns cornos mais retorcidos que um bode velho, apanhou tal bebedeira que ainda deve ser a mesma que hoje ainda anda a cozer.
Só para que vossemecês vejam a desgraça em que ele está, aqui há dias o Zé da Gata, em vez de vinho deu-lhe vinagre e só ao fim do terceiro copo de três é que o Azenha disse:
"– Parece que este vinho já está com um piquinho!"
Os copos também fazem com que os miolos do Azenha funcionem mal e grande parte das vezes nem diz coisa com coisa o que já lhe valeu algumas valentes cachaporradas na lombeira. Eu cá não sou pessoa de violências, mas se me chega a mostarda ao nariz, só lhes digo que tenho lá no moinho uma cachaporra capaz de pôr o Azenha a beber água.
Se fosse só por mim, nem perdia tempo com este assunto, não ligo a bebedolas, mas está em causa a menina da Junta que faz o favor de ser muito minha amiga.
Então a menina da Junta é uma menina que se chama Margarida, têm a mesma idade da minha filha e que até andaram juntas na escola das raparigas.
A menina da junta até já teve namorado e esteve mesmo de casamento marcado, mas o rapaz tinha um bocado de sangue a mais na guelra e um dia andava aí a acelerar a motoreta que nem um doido e foi espetar-se num poste dos telefones. Bateu logo ali a bota!
Foi um desgosto de criar de dó, mas o presidente da Junta quis aproveitar-se para a querer consolar, parece que ele estava a querer mesmo a modos que um consolo muito bem consolado, mas a menina ameaçou o homem de ir contar à patroa do presidente que ele lhe estava a fazer... a fazer... é só um momento:
" – Oh mulher, como é que se chama aquilo que o presidente queria fazer à menina da junta?... Não era eu, era o presidente, parece que já estás a aparvalhar!... É isso mesmo!
Então era um tal de assédio sexual. O presidente que tem uma miaúfa de alto lá que charuto da sua patroa, arrepiou caminho e deixou a menina em paz.
Portanto esta é que é a menina da junta que até é merecedora de todos os respeitos.
Quanto ao Manelinho, só deve existir na cabeça do Azenha e provavelmente já lá mora há muitos anos e talvez até, por mor disso, a mulher anda há um ror de tempo à procura do padeiro fora de casa.
E esta é que é a verdadeira verdade das coisas.
Todos vossemecês aqui vão os meus cumprimentos e mais os da minha senhora e até depois.
Zé do Moinho
Mais uma resposta do Carlos D'Azenha
“Já não dou mais para esta freguesia”
Esta carta já não é dirigida ao Zé do Moinho, mas sim a todos os leitores dos Diamantes, os quais me merecem toda a consideração, mesmo aqueles que lêem o chorrilho de aleivosias desse tal Zé do Moinho.
Quero, em primeiro lugar, lamentar o facto de me ter esquecido, no meu primeiro escrito, de referir a filha do Zé do Moinho. Referi os 4 filhos dele, dele é uma força de expressão, e olvidei, lastimavelmente, a filha, que é a única parecida com ele, especialmente nas tendências, pois, também, como o pai, gosta de homens. Portanto, as minhas desculpas por esta infeliz imprecisão.
Desejo, também, esclarecer que também não tenho qualquer postura homofóbica, como poderia entender-se da minha Carta Aberta. Eu sou, fundamentalmente, contra a embustice e foi por isso que denunciei o Zé do Moinho. Eu até sou pelo casamento entre homossexuais e por mim até estaria de acordo que o Manelinho da Junta e mais o Zé do Moinho se juntassem, assumissem a relação e casassem…
Tenho de admitir que o Zé Moinho, abichanado do caraças, revela em todos os seus escritos uma imensa criatividade, o que importa enaltecer, pois trata-se de um quase analfabeto, como já referi. O Zé do Moinho pertence àquela espécie dos burros criativos, cuja está em vias de extinção, pois como são quase todos rabetas não procriam.
O Zé do Moinho tenta insultar-me chamando-me de bêbado, mas a mim, um fidalgo de alta estirpe, da família secular dos D’ Azenha, não me ofende quem quer, muito menos este bardameco. Toda a gente sabe, se não sabe fica a saber, que eu sou um bebedor normal, um copinho ou dois a cada refeição e mais nada.
Toda a gente sabe que eu apenas apanhei uma bebedeira em toda a minha vida. Lamento essa situação, especialmente tendo em atenção o que aconteceu. Na altura dessa minha humana fraqueza, trabalhava na minha quinta, mais concretamente na minha mansão, a Maria, do Zé do Moinho, que me ajudou, mas que, como toda a gente sabe, também se aproveitou do meu estado, violando-me. Isto até se compreende tal era a fominha sexual que o marido, marido é força de expressão, a fazia passar. Desta situação terá nascido o Carlinhos, o tal filho (?!?!) do Zé do Moinho que é parecido comigo e que eu tenho, na condição oficial de padrinho, dado uma mesada apreciável, que tem sido fundamental para que o Carlinhos tenha uma educação digna.
Aliás toda a gente sabe, se não sabe devia saber, que o Carlinhos só não vive comigo porque a minha mulher, Marquesa de Alguidares de Cima, nunca aceitou o fruto do meu pecado. Eu bem lhe tenho dito que estava embriagado, que fui violado por uma saloia faminta, mas a Marquesa não se comove.
Termino, lastimando que o sítio dos Diamantes tenha sido alvo da ignomínia de um Chico Esperto Rabeta. Por mim este infeliz episódio acaba aqui. Não dou mais para esta freguesia.
Carlos D'Azenha
Depoimento a pedido e com autorização do
Sr. Presidente da Junta
Depoimento do Zé da Gata
Alto e para o baile!
Essa coisa do Azenha dizer que “não dá mais para esta freguesia”, o tanas é que não dá!
Eu não me meto nas questões entre os clientes porque para mim são todos iguais... Bem, alguns são mais iguais que outros, os que pagam como é o caso do Zé do Moinho, vem menos vezes ao meu estabelecimento mas paga o que bebe, quanto ao Azenha já aqui deve mais de um almude de vinho, o que vale é que o baptizo senão, ‘tão a ver o prejuízo que era!
E na venda da minha Jaquina, no livro dos fiados, só para o Azenha a para a desavergonhada da mulher vai um rol desde o feijão carrapato até às sêmeas para as galinhas, passando pelos caldos Knorr, pelo sabão macaco e sei lá que mais, até o arroz! Mas o arroz dou-lhes eu se não pagarem. “Não dá mais para esta freguesia!” Que experimente e não será o Zé do Moinho que lhe dá com a cachaporra, é aqui o Zé da Gata que lhe irá desfazer o focinho!
Então e agora não é que o Azenha diz que a desavergonhada da mulher é marquesa, não querem lá ver! De marquesa ela só tem a do Posto de Saúde onde ela se deita debaixo do enfermeiro depois de todos os doentes se terem ido embora... Mas também não é só o enfermeiro que se serve dela, acho mesmo que já toda a Aldeia lhe desempolvilhou os interiores, até há quem diga que o próprio padre Bentinho já lhe baptizou a coisa. É verdade que ela se vai confessar muitas vezes e cá para mim aquilo não é só para limpar os pecados, vejam lá que até já foi encontrada de joelhos na própria sacristia! O Xico do Porcos é que diz:
“Ajoelhou, tem que rezar!”
Como já disse, não quero saber das zangas dos meus clientes, mas o Azenha, que desde que encornou não diz coisa com coisa e até vê a dobrar, toda a gente sabe que o Zé do Moinho só tem um filho e uma filha tal como eu e ele, o Azenha, já vê quatro. Também vê homem ou coisa assim-assim naquele pedaço de mulher que é a menina da Junta, ‘tá variado de todo! Que o Azenha não torne a dizer que “não dá mais para esta freguesia”, eu é que não lhe fio mais nada e se quiser vinho que o vá pedir ao padre Bentinho como paga dele se servir da mulher.
Prontos, já disse o que tinha para dizer e se quiserem vir ao meu estabelecimento, tenho sempre uns carapaus de escabeche que a minha Jaquina faz para darem para todo o mês, tenho também umas iscas e uns queijinhos. Por encomenda fazemos caras de bacalhau e atum de barrica da venda da minha Jaquina e prontos.
Zé da Gata ao dispor.
Embora com algum atraso publicamos de seguida um esclarecimento pelo Sr. Padre Bentinho, pároco da nossa aldeia:
Ovelhas transviadas da minha paróquia.
Por favor calai-vos porque não sabeis o que dizeis e pareceis estar possuídos!
Sabeis que as ofensas a um ministro da Igreja é uma ofensa ao Altíssimo? Temei a ira Divina que se abaterá sobre vós se não voltardes ao caminho que os conduzirá à eternidade. Estais próximos do abismo onde o chifrudo vos aguarda para vos conduzir às trevas eternas, por isso parai enquanto tendes tempo.
É verdade que a esposa do Azenha ultimamente tem vindo à Igreja depois de ter andado perdida, caída nas tentações da carne, mas Jesus ensinou-nos a perdoar e quando lhe relembrei o episódio de Maria Madalena, exactamente o mesmo nome desta nossa ovelha, e ao lembrar-se como Ele perdoou, a Maria Madalena de hoje, em atitude penitente, caiu de joelhos à minha frente em plena sacristia e rezou um Pai Nosso em louvor do Senhor. Foi isto que vistes e nada mais, só a perversidade de algumas mentes poderão pensar que... nem quero dizer! Agora ela está pronta para encetar o caminho do bem e até vai entrar para a Comissão de Senhoras para os trabalhos de Tricô que tanto êxito têm obtido nas nossas vendas de Natal.
O marido, coitado, o Azenha ensandeceu e as palavras que lhe ouvis, são as que o Capeta, que se apossou da sua pobre alma, lhe põe na ponta da língua, mas não useis de violência para com o pobre transviado e rezai para que ele se possa exorcizar e encontrar de novo o caminho do Céu. Poisai as cachaporras e os porretes, olvidai os insultos que o demo lhe inspira e perdoai-lhe como eu já o perdoei quando o apanhei a roubar o vinho da Santa Eucaristia...
Ai Jesus, ao que ele chegou!
Zé do Moinho, Zé da Gata e muitos outros, relevai e ajudai à redenção daquela alma e dizei às vossas esposas para virem até nós para reforçar a Comissão de Senhoras para os Trabalhos de Ponto Cruz que tão carenciadas estão.
Azenha, renega o cálice envenenado que o rabudo de oferece e te tolda a mente, nunca digas do senhor Presidente da Junta e deste ministro do Senhor o que tens dito de outros, porque senão nem sei o que te faço... Olha, nunca mais rezo por ti!
Agora convido-vos a todos para rezarmos pela nossa Aldeia.
Oremos
Padre Bentinho
PS – Na próxima 4ª Feira há reunião na sacristia com a Comissão de Senhoras dos Arranjos Florais e na 6ª Feira reúne a Comissão de Senhoras para a Renovação da Toalha do Altar, comissão esta presidida pela esposa do senhor Presidente da Junta.
“Insisto, já dei demais para esta freguesia”
Eu, Carlos D’ Azenha, fidalgo de alta estirpe, pessoa de bem e filho de boas famílias, dou por encerrada a minha participação no Órgão de Comunicação dos Diamantes Negros, por achar inqualificável o facto de darem cobertura a uma campanha vil, infame e soez, proveniente de um individuo também vil, infame e soez. Isto é que é uma verdadeira campanha negra. A campanha contra o Sócrates, comparada com aquela que me é dirigida, é uma verdadeira brincadeira de putos.
Toda a gente sabe, se não sabe devia saber, que o Zé do Moinho, o Zé da Gata, e o padreca Bentinho são uma e a mesma pessoa. O Gata e o Bentinho são figuras de ficção. São heterónimos do Zé do Moinho. Aliás isso vê-se logo, a lengalenga é a mesma.
É nítido que o Órgão de Comunicação desse Conjunteco de Pedras Falsas quer é escandaleira, quer é vender, mas à minha custa não vende mais nada.
Desde o princípio da minha excepcional colaboração, tem sido evidente que o editor do Órgão me quer prejudicar. Primeiro escarrapachou uma fotografia de um saloio inestético como sendo da minha pessoa. Levei a coisa com humor, não disse nada, mas tudo tem um limite, chegou a altura de dizer basta. A mim não me enxovalham mais. Eu, um fidalgo bem aprumado, bem-apessoado, a ser confundido com um saloio de meia-tijela. Não.
Depois e a mais grave de todas, como concordarão, o editorzeco retira-me os itálicos dos meus textos numa manobra evidente de manipulação abjecta, imunda e desprezível dos meus excelentes arrazoados.
Já desconfio mesmo, só pode ser, que o editorzeco do pasquim dos Pedras Falsas também é larilas. Isto é o “lóbi abichanado” a impor as suas influências. Mas comigo não contam. Já disse que não sou homofóbico, mas não entro no vosso jogo, o jogo de favorecer quem pega de empurrão.
Empurrem-se uns aos outros, mas comigo não.
Carlos D’ Azenha
Esclarecimento da Redacção:
Para os efeitos achados convenientes e ao abrigo do direito de resposta que a Lei confere passamos a esclarecer:
1) Não tem razão o Sr. Carlos D'Azenha quando afirma que a fotografia não é a dele. Foi-nos cedida pela menina da Junta e com autorização do senhor Presidente que faz o favor de apoiar o nosso "periódico" que já considerou de grande interesse público;
2) O senhor Presidente da Junta considera lamentável o uso de palavras indecurosas como: Pasquim dos Pedras Falsas, "lóbi abichanado" e outras referências menos nobres;
3) Pelos motivos expostos a equipa editorial Diamantina não pode deixar de repudiar tais argumentos deixando bem claro que ninguém a cala (aproveitando o dito de ilustre poeta da nossa praça).
A Bem da grande aldeia saloia!
O chefe redactor
O Senhor Presidente da Junta